O mantra "Mudança e esperança", espinha dorsal da campanha que levou Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos, deu a volta ao mundo e se repetiu no Japão. No lugar do famos "Yes, we can" de Obama, o slogam que mobilizou os eleitores japoneses foi "Seikatsu daiichi", ou "A vida das pessoas em primeiro lugar". Frustados com quase duas décadas de estagnação econômica, os japoneses encerraram em agosto mais de meio século de domínio do conservador Partido Democrático Liberal, entregando o poder a seu principal concorrente, o Partido Democrático do Japão, de centro-esquerda. A plataforma do novo primeiro-ministro, Yukio Hatoyama, de 62 anos, que tomou posse em setembro, também representa uma ruptura. Em vez de gastar seu tempo com questões como o interminável debate no país a respeito da conveniência da privatização dos Correios, que funcionam na prática como o principal banco no Japão, Hatoyama assumio o posto do premiê prometendo medidas práticas e urgentes para reativar o consumo interno. O pacote inclui a diminuição de cobrança de impostos para as empresas e a criação de uma espécie de Bolsa Família.
O Japão que Hatoyama recebe das mãos do ex-premiê Taro Aso é um país em que a produção industrial retraiu quase 40% no último ano (menor nível desde 1983). Desde o início da década de 90, a taxa média de crescimento anual do PIB tem sido de mero 0,6%. E por causa da deflação (hoje é de 2%) o valor nominal do PIB está próximo do que era em 1983. Em outras palavras, nos últimos 16 anos, a economia do Japão não saiu do lugar. As previsões de resultados para 2009 de várias empresas japonesas foram catastróficas. A Hitachi, tradicional nome do setor de tecnologia, prevê perdas de quase 8 bilhões de dólares. A segunda maior empresa aérea do país, a All Nippon Airways, deverá acumular até dezembro um prejuízo de 100 milhões de dólares. Com os números no vermelho, muitas corporações vêm realizando demissões, elevando o índice de desemprego do país a uma taxa mensal próxima de 6%, o pior número do Japão do pós-guerra. Só nos últimos meses o país começou a apresentar alguns sinais positivos de recuperação. No segundo trimestre deste ano, o PIB cresceu 0,9% e as exportações também já começam a reagir, tendência que vem sendo acompanhada pelo Índice Nikkei. Mesmo assim, o PIB do país deve sofrer uma retração de 6% em 2009 e entrar na rota positiva apenas em 2010.
Um dos pilares do programa de Hatoyama é o fomento ao mercado de consumo interno para tirar do marasmoa segunda maior economia do mundo. As primeiras medidas práticas do novo governo deverão entrar em vigor ainda neste ano. Entre as principais está um "mesada" mensal de 275 dólares para as famílias japonesas a cada filho menor de idade. Além de colocar mais dinheiro em circulação na economia, a mediada tem como objetivo incentivar o aumento da taxa de natalidade. A população japonesa é a que está envelhecendo mais rapidamente no mundo, um em cada cinco habitantes tem mais de 65 anos. No pacote de Hatoyama constam também mediadas como o fim da cobrança de mensalidade para as universidades públicas (atualmente, os estudantes pagam taxa) e a eliminação dos pedágios nas rodovias federais. Para os empresários, o novo premiê acena com uma reforma tributária para reduzir os impostos de 40% para menos de 30%.
Seu desafio será cumprir essas promessas de campanha sem comprometer os cofres públicos. A dívida pública do Japão está em 17% do PIB, o nível mais alto entre os países desenvolvidos. O homem escolhido por Hatoyama para o Ministério de Finanças, Hiroshisa Fujii, tem a missão de acalmar os críticos já preocupados com o agravamento da situação. Aos 77 anos e com uma passagem pelo mesmo cargo entre 1993 e 1994, Fujii é considerado o quadro ideal para realizar o malabarismo fiscal de fazer caber no próximo orçamento fiscal do país, de 2 trilhões de dólares, todos os benefícios prometidos pelo novo premiê sem sobrecarregar as contas públicas. No total, as subvenções vão custar 180 bilhões de dólares ao ano. Segundo Fujii, o milagre seria possível com o corte de desperdícios na máquina do governo. Para enfrentar a notória morosidade da burocracia japonesa, Hatoyama tem a seu lado uma boa base política, com a maioria nas duas casas do Congresso, o PDJ aumentou a sua presença de 113 para 308 cadeiras (de um total de 490). O apoio popular também é expressivo: pela primeira vez, 69% dos eleitores exerceram o voto, um recorde histórico no país. A força da vitória do PDJ foi chamada pela revista inglesa The Economist de "ato de protesto político".
O "sangue azul" de Yukio Hatoyama parece fazer dele o candidato ideal para liberar a virada econômica japonesa sem perder de vista a tradição conservadora do país. Rígido, muito rico e com olhos saltados que lhe renderam o apelido de "Alien", Hatoyama tem doutorado em engenharia pela Universidade de Stanford. Foi lá que conheceu sua mulher, a ex-atriz Miyuki Hatoyama. Divorciada do primeiro marido e dada a excentricidades, Miyuki já declarou em programas de televisão ter conhecido o ator Tom Cruise em encarnações passadas e que sua alma visitou o planeta Vênus a bordo de um disco voador triangular. O único filho do casal, Kiichiro, estuda engenharia na Rússia. Hatoyama, que já disse que sempre se sentiu repelido pela política e preferia se dedicar às sua coleções de selo e insetos, só em 1980 resolveu seguir a vocação da família. Os Hatoyama são uma versão japonesa dos Kennedy e estão na quarta geração de políticos. A saga começou com a figura de Kazuo Hatoyama, que fundou no século 19 o PDL, justamente o partido agora derrotado pelo bisneto.
Revista Exame - edição 953 - 07/09/2009
Este blog é um espaço para publicação de matérias, abordagem de assuntos de interesse ao público nippo-brasileiro.
Pesquisa
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Pode me chamar de Obama
sábado, 26 de setembro de 2009
Japão mantém superávit na balança comercial
O ministério das Finanças informou na quinta-feira (24) que a balança comercial manteve seu superávit em agosto por causa da queda de 41% nas importações, se comparado com agosto de 2008.
O excedente da balança comercial foi de 4,5 trilhões de ienes.
Este foi o sétimo mês consecutivo de superávit, apesar da queda de 36% nas exportações se comparado com o mês de julho, chegando a 4,5 trilhões.
Ém agosto, o preço do barril de petroleo custou 61% a menos que o mesmo período do ano de 2008.
O comércio do Japão com os principais mercados, entre eles Ásia, EUA e União Européia também registrou queda, mas manteve o superávit.
O excedente da balança comercial do Japão com a Ásia foi de 695 bilhões de ienes, apesar da queda de 31%, enquanto as importações com a Ásia reduziram 30% do período.
As esportações para o mercado norteamericano caíram 34%, marcando o excedente de 272,8 bilhões de ienes. Esse superávit vem cainda há dois anos.
Já com a União Européia a quda no superávit foi de 86% em agosto, totalizando 44,7 bilhões de ienes.
A queda foi provocada pela redução de 46% nas exportações.
Com a América Latina a balança ficou favorável em agosto com 71,4 bilhões de ienes, apesar da redução de 41% em relação ao mesmo período de 2008 e queda de 35% nas exportações.
IPC - 24/09/2009
sábado, 19 de setembro de 2009
Aumenta o índice de confiança dos empresários na economia
O índice que mede o otimismo entre os empresários japoneses ficou positivo no terceiro trimestre pela primeira vez em 21 meses. A alta acontece graças a melhoria no setor das indústrias, anunciou na quinta-feira (17) o governo.
O índice de confiança empresarial ficou positivo em 0,3 contra -22,4 pontos no período de abril a junho. Foram consultadas empesas com mais de 1 bilhão de ienes de capital.
Somente entre os grandes fabricantes o índice foi de 15,5 pontos, o nível mais alto desde que a pesquisa começou a ser feita em 2004.
Esta é a primeira vez em sete trimestres que aumentou o número de empresas que acreditam que os negócios estão melhorando.
As previsões do governo são de que a expectativas dos empresários vai melhorar graças ao aumento da produção industrial e das exportações.
O aumento da confiança acontece depois do anúncio do Produto Interno Bruto (PIB) em 3,7%, índice que teria marcado o fim da recessão no país.
No entanto, nas últimas semanas, os exportadores japoneses estão se preparando para enfrentar a alta do iene, o que pode reduzir os lucros na hora de repatriar o dinheiro vindo do exterior.
O governo divulgou também que o índice que mede a demanda no setor de serviços subiu 0,6% em junho, o maior aumento desde fevereiro.
IPC - 17/09/09 - 18:03
JAL pode reduzir ou suspender vôos para São Paulo
A Japan Airlines (JAL) planeja reduzir ou até suspender os vôos da rota Tokyo-São Paulo e Tokyo-Roma. A medida faz parte do plano de reestruturação da empresa e tem como objetivo reduzir os gastos, informou o jornal Mainichi.
A JAL anunciou na segunda-feira (14) que deve demitir seis mil funcionários e reduzir 20% das operações até 2012. A companhia pretende ainda reduzir em 30% os gastos operacionais para tentar driblar a crise financeira, provocada pela queda das vendas.
A empresa pode implantar um plano de aposentadoria antecipada para alcançar a meta de redução de mão-de-obra.
Entre as medidas incluídas no plano de reestruturação da JAL se destacam a redução das rotas e a utilização de aviões mais pequenos, para adaptar à queda da demanda.
A JAL pretende iniciar conversações com a Amercian Airlines para estudar a possibilidade de formar uma aliança que possa ajudar a resolver os problemas financeiros. A Delta já foi consultada.
A empresa registrou perdas de 99 bilhões de ienes no primeiro trimestre. Esta é a pior crise dos últimos seis anos. A previsão é fechar o balanço de 2009 com 63 bilhões no vermelho.
Em junho, a JAL recebeu uma linha de crédito no valor de 100 bilhões de ienes de um consórcio integrado pelo Banco de Desenvolvimento do Japão, dentre outras empresas.
Os japoneses querem luxo por menos
As vendas das grifes de luxo estão em queda no Japão - o segundo maior consumidor desse mercado depois dos Estados Unidos. Esse desempenho não está associado apenas à crise. O que está em curso no país, segundo a consultoria McKinsey, que entrevistou recentemente 1500 compradores, são mudanças de comportamento. Os japoneses estão menos deslumbrados com o glamour dessas grifes e começam a perceber que marcas populares, como a espanhola Zara e a sueca H&M podem trazer satisfação a preços muito mais baixos. Paralelamente, o conceito de luxo está em transformação. Muitos japoneses estão optando por investir em "experiências" - como jantar em um restaurante refinado ou viajar para um resort badalado - em vez de comprar mais um item para o guarda roupa.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Pop star japonesa é liberada após pagar fiança
Emocionada, Noriko Sakai, cantora pop japonesa de 38 anos, pediu desculpas aos fãs em sua primeira coletiva de imprensa desde que foi presa dia 8 de agosto por porte e consumo de estimulantes ilegais.
A cantora foi solta depois que pagou uma fiança de 55 mil dólares. Diante dos repórteres, ela respondeu a perguntas e também pediu desculpas aos fãs.
“Aos meus fãs no Japão e em outros lugares que têm me apoiado desde antes (da prisão), e às pessoas da minha agência que têm trabalhado por mim, eu peço verdadeiramente desculpas”, disse a cantora, que chorou durante a coletiva de imprensa.
Seu marido, Yuichi Takaso, de 41 anos, que também foi preso pelas mesmas acusações, aguarda o julgamento. Os dois estavam proibidos de se encontrar sem a presença dos advogados.
Sakai é acusada de posse de drogas ilegais em sua casa, em Tóquio, e por ter usado o estimulante em um hotel em Kagoshima.
Agora, ela aguardará a audiência, que acontecerá dia 26 de outubro, em liberdade. A audiência de seu marido está marcada para acontecer dia 21 de outubro.
Made in Japan - 17/09/09
O fim de um ano de recessão
Na pequena lista de países que já conseguiram deixar o pior da crise econômica para trás, a grande surpresa é o Japão. Após quatro trimestres seguidos de recessão, o PIB japonês voltou a subir no trimestre passado (0,9%) e o país já projeta um crescimento de 3,7% em 2009. A reaçao foi impulsionada pela alta de 6% nas exportações, destinadas principalmente aos vizinhos asiáticos, em particular a China. Além disso, uma série de programas de estímulo do governo fortaleceu o consumo interno. O próximo desafio do Japão é continuar crescendo sem a ajuda do Estado. Hoje, os cofres públicos estão comprometidos com uma dívida que beira 150% do PIB nacional.
Exame - Edição 951 - 09/09/2009
